sexta-feira, 1 de maio de 2020

As Epístolas de Pedro

O caráter das epístolas de Pedro está de acordo com a pessoa de Pedro. Certamente é o Pedro restaurado, o apóstolo, pastoreando o rebanho de Deus; no entanto, vemos nelas as experiências dos evangelhos (Jo 21:15-19). A primeira epístola foi provavelmente escrita da Babilônia (1 Pe 5:13), enquanto a proximidade do seu martírio sugere que a segunda poderia ser de Roma[1] (2 Pe 1:14). A referência à Babilônia não é simbólica; o versículo deve lido, “A vossa co-eleita em Babilônia vos saúda, e meu filho Marcos” (1 Pe 5:13) – refere-se a um indivíduo, não a Igreja (eleição é individual).
Ambas as epístolas são dirigidas aos crentes judeus espalhados por toda a Ásia Menor (1 Pe 1:1; 2 Pe 3:1). Eles haviam abandonado o judaísmo para o Cristianismo, sua herança era celestial, e seu Messias glorificado. Física e espiritualmente eram peregrinos e forasteiros (1 Pe 2:11). O apóstolo os encoraja em seu caminho terrestre, uma maneira repleta de provações e perseguições. A salvação em sua plenitude é uma coisa futura (1 Pe 1:4-5). O governo de Deus é especialmente trazido diante de nós – na primeira epístola, em relação aos justos, enquanto na segunda, no julgamento dos ímpios.

Primeira Epístola de Pedro

No capítulo 1 temos a esperança do Cristão – uma viva esperança. Embora existam provações, os resultados terão um peso eterno (1 Pe 1:7). O governo diário de Deus deve ser reconhecido, e passamos este tempo de peregrinação  em temor, não porque somos incertos quanto à salvação, mas porque fomos redimidos “com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado” (1 Pe 1:16-19).
No capítulo 2, versículos de 1 a 10, temos privilégios Cristãos. Em contraste com o templo judeu, somos, como pedras vivas, “edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1 Pe 2:5). Cristo é a pedra de esquina. Com nosso serviço para com Deus assim estabelecido, encontramos que há também um testemunho ao homem: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daqu’Ele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1 Pe 2:9).
Em conexão com essas duas coisas – nosso serviço diante de Deus e nosso testemunho diante deste mundo – experimentamos o governo moral de Deus em nossa vida. A arca e Dagom não podiam habitar juntos (1 Sm 5:3). “Sede santos, porque Eu Sou santo” (1 Pe 1:16).
Pedro começa a sua exortação com: “Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma” (1 Pe 2:11). Ele vê a peregrinação do Cristão como um caminho de sofrimento, no meio do qual devemos nos comportar de tal maneira a trazer glória a Deus. Isso se aplica tanto em relação aos governos e patrões, bem como nas relações domésticas. “Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados. E não temais com medo deles, nem vos turbeis” (1 Pe 3:14).
Quando nossa vida é governada pela vontade de Deus, sofremos; tal caminhada deve ser à custa da nossa própria vontade (1 Pe 4:1-2). Um caminho de excesso mundano pode ter seus prazeres, mas aqueles que caminham assim terão que prestar contas a Ele que está pronto para julgar os vivos e os mortos (1 Pe 4:4-5).
Temos um dom; devemos usá-lo para a glória de Deus como fiéis despenseiros (1 Pe 4:10). Se sofremos pelo nome de Cristo, então somos felizes (1 Pe 4:14). Ninguém deve sofrer como um malfeitor (1 Pe 4:15). Deus trabalha Seus caminhos de governo primeiro com aqueles mais próximos d’Ele, e assim o julgamento deve começar pela casa de Deus (1 Pe 4:17).
O livro termina com o velho Pedro exortando os anciãos, “Apascentai o rebanho de Deus” (1 Pe 5:2). E aos mais jovens, “sede sujeitos aos anciãos” (1 Pe 5:5). “E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à Sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, Ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá” (1 Pe 5:10).

Segunda Epístola de Pedro

A segunda epístola de Pedro aborda a terrível impiedade dos últimos dias da Cristandade. Mestres não regenerados, negando o Senhor que os comprou, seduziriam com palavras vãs, prometendo liberdade, mas levando almas à escravidão do pecado (cap. 2:1 – TB). Os escarnecedores zombariam do Cristianismo e da esperança do crente (cap. 3).
Enquanto os capítulos 2 e 3 são sombrios, o primeiro é brilhante com encorajamento. Pedro os exorta a procurarem fazer cada vez mais firme a vocação e eleição, não aos olhos de Deus, pois isso tornaria as palavras sem sentido, mas no andar deles. Ele deseja que a nossa entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo seja abundante, ricamente suprida (2 Pe 1:11). Pedro recorda o monte da transfiguração; como ele poderia esquecer essa cena? (2 Pe 1:17-18). Realmente temos uma palavra de certeza, pois aguardamos, não o nascer do Sol, mas a estrela da manhã (2 Pe 1:19).
Enquanto a linguagem desta epístola, e especialmente o segundo capítulo, assemelha-se a Judas, lá está a apostasia mencionada, e aqui está o pecado. Pedro ao usar os anjos como um exemplo diz: “Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram” (2 Pe 2:4), enquanto Judas, usando um exemplo semelhante, relata: “E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação” (Jd 6).
Era o desejo de Pedro que eles pudessem estar atentos às palavras ditas pelos apóstolos (2 Pe 3:1-2). A sua maneira de falar não oferece qualquer sugestão de sucessão apostólica. Assim como havia zombadores no dia de Noé, suas vozes são hoje em alto e claro tom. O mundo, no entanto, não está agora sendo reservado para uma inundação, mas para o fogo, e a dissolução total do céu e da Terra. Sabendo disso, devemos ser diligentes em procurar “que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz” (2 Pe 3:14).




[1] N. do A.: A história secular registra que Pedro morreu em Roma, uma visão amplamente aceita.

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