sexta-feira, 1 de maio de 2020

O Livro dos Salmos

O Livro dos Salmos é uma coleção de meditações, orações e louvores. Embora o livro tenha um caráter claramente profético, não é uma declaração formal de eventos futuros. Nem é história ou doutrina, embora contenha ambos. Eles são as expressões do coração daqueles que estão em meio a uma profunda tristeza ou se exercitam sob a liderança do Espírito Santo.
Davi escreveu muitos salmos (Lc 20:42). Alguns podem estar relacionados a circunstâncias específicas em sua vida. No entanto, estes não são simplesmente os clamores de Davi, nem mero sentimento humano. Além disso, eles são a linguagem do Espírito de Cristo no salmista (1 Pe 1:11). Alguns, como o Salmo 22, podem ser identificados com um tempo e lugar específicos na história do Senhor Jesus. Em outros, encontramos Cristo em associação com o remanescente piedoso em Judá e Israel: afligido na terra, fora da terra, o lugar que Ele tomou entre eles quando estava na Terra, e na bênção completa durante o milênio. Nenhum outro livro expressa os pensamentos e sentimentos do coração do Senhor dessa maneira.
Embora haja muito para o Cristão, os Salmos não devem ser lidos meramente para conforto, mas para comunhão com a mente e os caminhos de Deus. Os Salmos estão ocupados com Judá e Israel. São as experiências de um povo sob a lei. As bênçãos e posições que nós, como Cristãos – membros do corpo de Cristo – desfrutamos, não eram conhecidas.

Divisões dos Salmos

O Livro dos Salmos não é dividido em capítulos; antes, cada salmo é conhecido por sua posição – por exemplo, o segundo salmo (At 13:33). Os títulos encontrados acima de muitos salmos aparecem na Septuaginta e em outros manuscritos do homem, e são de uma data muito antiga. No hebraico, os salmos são divididos em cinco livros, cada um com um caráter distinto:
  • Salmos 1-41 formam o primeiro livro;
  • Salmos 42-72 o segundo;
  • Salmos 73-89 o terceiro;
  • Salmos 90-106 o quarto, e;
  • Salmos 107-150 o quinto.
O fechamento de cada livro é claramente marcado, como pode ser observado pela leitura dos últimos versículos de cada um.[1] Sua ordem é moral, nunca cronológica.

Profecia e os Salmos

Um conhecimento do futuro profético de Judá e Israel é útil para entender os Salmos. No final dos livros históricos, Judá e Israel estão em cativeiro. A história pós-cativeiro de Judá difere da de Israel, cuja identidade como povo foi perdida. Como estamos testemunhando ainda hoje, Judá será restaurado em sua terra na incredulidade (Is 18), e reconstruirá finalmente seu templo (Is 66: 1-6; 2 Ts 2:4; Sl 74). Com a igreja sendo tirada dessa cena no Arrebatamento, um período de tremenda provação chegará a todo o mundo habitável (Ap 3:10). Com duração de sete anos (Dn 9:24-27), os primeiros três anos e meio são conhecidos como o princípio das dores (Mt 24:8; primeiro livro dos Salmos), enquanto os últimos três anos e meio são o período da grande tribulação (Mt 24:15-24; segundo livro dos Salmos).
O período de 75 dias após a grande tribulação é chamado de Indignação (Is 10:24-25, 26:20, 34:1-2; Dn 11:36). Durante esse período, muitas nações tentarão esmagar Israel, desafiando até o próprio Senhor. Um remanescente de Judá será preservado (Zc 13:9). As experiências desse remanescente sob a mão disciplinadora e a disciplina governamental de Deus, sofrendo e confessando a culpa nacional de uma lei violada, e o fardo ainda mais terrível de crucificar seu Messias, são muito detalhadas nos Salmos. O Senhor reunirá as dez tribos de volta à terra (Mt 24:31; Dt 30:1-10; quarto Livro dos Salmos), fazendo com que passem sob a vara, expurgando os rebeldes na fronteira (Ez 20: 35-37).
Com o fim da indignação, o reino do Senhor será estabelecido e Ele reinará sobre a Terra em justiça por um período de 1.000 anos – o Milênio (Sl 72; Is 35; Zc 14:9; Ap 20:1-6). Aqueles que permanecem das nações gentias vão subir ano a ano a Jerusalém para adorar o Rei, o Senhor dos exércitos (Zc 14:16).

Visão Geral dos Cinco Livros de Salmos

No primeiro Livro dos Salmos, temos Cristo em associação com um remanescente sofredor, mas fiel, na Judeia. Jeová é o título mais frequente usado nesta parte, sendo Seu título de relacionamento de aliança com Israel. Aos santos que estão na terra e aos excelentes que disseste: Neles está todo o meu prazer (Sl 16:3 – JND). Os dois primeiros Salmos são introdutórios a toda a coleção; eles introduzem o remanescente piedoso e o Messias – o Ungido do Senhor (Sl 2: 2).
No segundo livro, o remanescente é visto como expulso da terra, mas confortado e mantido pela presença e promessas de seu Messias. Deus não reconhece publicamente esse remanescente e, portanto, “Deus” (Eloim), Seu título na criação, é usado ao invés de “Jeová”. “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Sl 46:1).
A nação inteira nos últimos dias é mencionada no terceiro livro. A história deles e o trato de Deus com eles são mencionados (por exemplo, Sl 78). O assunto é abordado de maneira geral; não é Cristo em associação com o remanescente. Vemos igualmente referências a “Deus” e “Jeová”.
No quarto livro, temos a vinda do Messias, tendo sido restaurada a relação entre Israel e Deus. Jerusalém é o cenário. Aqui temos a bênção associada ao Seu reinado e presença pessoal. Estes são salmos de gozo. Jeová é novamente o título preferido. “Cantai ao SENHOR um cântico novo, porque Ele fez maravilhas; a Sua destra e o Seu braço santo lhe alcançaram a vitória (Sl 98:1).
Os salmos que compõem o quinto livro são mais morais do que proféticos, lidando com o retorno de Israel a Jeová e Seus caminhos com o Seu povo (por exemplo, os quinze cânticos dos Degraus – Sl 120-134). Eles terminam em louvor.

A Igreja e Profecia

Talvez seja necessário, neste momento, discutir brevemente a posição da Igreja em relação à profecia. A Igreja não era, e não é, o assunto da profecia. A profecia está ocupada com o trato de Deus no governo da Terra, no centro do qual está Israel. É importante que os crentes entendam isso, de outra forma muito do conteúdo na Bíblia causará confusão. A Igreja é uma entidade bastante distinta de Israel: “não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à Igreja de Deus” (1 Co 10:32).
Em Mateus, a Igreja é uma coisa futura. Pedro era uma pedra (“Pedro” em grego é “petros”, uma “pedra”), mas é a verdade da confissão de Pedro: “Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16:16), que forma a fundação – a rocha – sobre a qual Cristo edificaria Sua assembleia. Ele é o construtor, e o edifício é dele. Ela é perfeita; os portões do inferno não podem prevalecer contra ela (Mt 16:15-18).
A escritura também apresenta uma visão da Igreja em relação à responsabilidade humana. Paulo, como sábio mestre-construtor, lançou a base – Jesus Cristo – sobre a qual outros edificam; não apenas com ouro, prata e pedras preciosas, mas também com madeira, feno e palha (1 Co 3:10-12).
A decadência que entrou é mencionada em 2 Pedro, e nas epístolas de João e Judas. Nos discursos das sete igrejas em Apocalipse, temos uma visão do Cristianismo em suas várias fases de declínio. Não é a própria Igreja que é o assunto, mas a ruína moral da Cristandade professa neste cenário terreno. Enquanto a noiva, “Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante” (Ef 5:27), será chamada ao Arrebatamento, a profissão vazia apóstata que permanece (a “grande prostituta” – Ap 17:1), será vomitada da Sua boca (Ap 3:16). O Senhor então retomará Israel – os ramos naturais (Israel) sendo enxertados em sua própria oliveira (Rm 11:24).




[1] N. do T.: Os livros terminam com as expressões “Amém e Amém” ou “Louvai ao Senhor”.

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