sexta-feira, 1 de maio de 2020

João

Longe de ser mera repetição, o assunto deste último evangelho é tão distinto quanto os três primeiros. No evangelho de João, o Senhor Jesus é apresentado como o Filho de Deus (Jo 1:34). É Deus revelado como luz e amor. João põe diante de nós a glória divina de Sua Pessoa, por causa de quem Ele é – o “Eu sou” (Jo 8:58).
Há muitas marcas que distinguem o evangelho de João. Enquanto os três evangelhos anteriores são sinóticos[1] – dando um esboço da vida do Senhor – não encontramos isso em João. Em vez disso, “n’Ele estava a vida; e a vida era a luz dos homens” (Jo 1:4). Neste evangelho não temos genealogia, nem registro de Seu nascimento, encontrando em vez disso o que Ele era no início, antes da criação – o Filho Eterno. Ele era Deus antes de Se tornar Homem.
Como Filho de Deus, não lemos a agonia no jardim; em vez disso, vemos Sua Majestade divina desconcertando Seus inimigos (Jo 18:6). Não há parábolas, e apenas um milagre em comum com os outros evangelhos (Jo 6:5-14). Há um número de palavras peculiares ao evangelho de João, não que elas não ocorram em outro lugar, mas em nenhum lugar com tal regularidade. Quatro deles – “amor”, “mundo”, “crer” e “vida” – são encontrados juntos em João 3:16. Em vinte e cinco ocasiões, o Senhor introduz Suas palavras com “em verdade, em verdade”, acentuando a sua importância.
A rejeição de Cristo por Israel é assumida a partir do início: “Veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam” (Jo 1:11). No que diz respeito ao judaísmo é dito “dos judeus” (como nos caps. 2:6, 2:13 e 5:1) – uma frase que ocorre com pouca frequência nos outros evangelhos, mas muitas vezes no de João. João Batista identifica o Senhor, não como o Messias, mas como “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Causa maravilha, não o testemunho público de João, mas a expressão do seu coração – “Eis o Cordeiro de Deus!” (Jo 1:36) – que faz com que seus discípulos O sigam. João os reúne ao Senhor; Jesus os reúne para Si mesmo – “segue-Me” (Jo 1:43). Quando Natanael reconhece o Senhor como o Filho de Deus, o Rei de Israel – um quadro para nós do remanescente judeu – o Senhor introduz imediatamente o “Filho do Homem”, um título que nos leva para além de Israel, leva para Seu direito de liderança universal (Jo 1:51).
O capítulo 2 nos apresenta a Sua glória milenar. O gozo desse reino é prefigurado na cena do casamento em Caná (Jo 2:11), enquanto na purificação do templo temos o juízo que o caracterizará (Jo 2:14-17).
No capítulo 3, encontramos que o único caminho para o reino de Deus é por meio do novo nascimento (Jo 3:3). A carne, não importa quão religiosa seja, não pode entrar no reino; deve ser julgada e aqu’Ele que é vida deve morrer. Não há nada no homem que agrade a Deus: “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito” (Jo 3:6). Deus não pode confiar no homem (Jo 2:24); em vez disso, o homem deve colocar sua confiança em Deus (Jo 3:36). Os três primeiros capítulos são introdutórios ao livro inteiro.
Indo adiante deles, eles O seguem (Jo 10:4). Ele é o nosso tudo:
  • “Eu Sou o pão da vida” (cap. 6:35);
  • “Eu Sou a luz do mundo” (cap. 8:12);
  • “Eu Sou a porta” (cap. 10:9);
  • “Eu Sou o bom Pastor” (cap. 10:11, 14);
  • “Eu Sou a ressurreição e a vida” (cap. 11:25);
  • “Eu Sou o caminho, a verdade e a vida” (cap. 14:6);
  • “Eu Sou a videira verdadeira” (cap. 15:1).
Se o Senhor reúne, ele também divide por causa de Sua Pessoa (Jo 7:43), por causa de Suas obras (Jo 9:16) e por causa de Suas Palavras (Jo 10:19). No capítulo 9, o Senhor Jesus e aqueles que creem n’Ele são rejeitados e expulsos (Jo 9:34). No capítulo 10, Ele chama os que são Seus pelo nome e os leva para fora do aprisco (judaísmo), para que haja um rebanho (a Igreja) e um Pastor (João 10:3, 16). No capítulo 11 temos a profecia de que Ele morreria, não apenas para Israel, “mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus, que andavam dispersos” (Jo 11:52).
No capítulo 12, Jesus responde ao povo, “e Eu, quando for levantado da Terra, todos atrairei a Mim” (Jo 12:32). Como Ele é celestial, o Seu povo também será. Ele não nos conduz a uma terra prometida aqui nesta cena terrena, a cena de Sua rejeição, mas à casa de Seu Pai: “Na casa de Meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, Eu vo-lo teria dito: vou preparar-vos lugar. E, se Eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo, para que onde Eu estiver estejais vós também” (Jo 14:2-3). Nem ficamos sem consolo, pois o Espírito Santo é prometido no momento da Sua saída deste mundo (Jo 14:16; 16:7). Finalmente, no capítulo 17, ouvimos o Senhor em comunhão com o Pai, “para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu, em Ti; que também eles sejam um em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste” (Jo 17:21).
Nos capítulos 18 a 21, temos o julgamento, a morte e a ressurreição do Senhor. “Está consumado” (Jo 19:30); assim, o trabalho do Filho está completo. Aparecendo a Maria, Ele pode dizer-lhe “vai para Meus irmãos, e dize-lhes que Eu subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus” (Jo 20:17). A exortação conclusiva do Senhor a Pedro é, “segue-Me tu” (Jo 21:22).




[1] N. do T.: Evangelhos sinópticos ou evangelhos sinóticos é um termo que designa os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas por conterem uma grande quantidade de histórias em comum, na mesma sequência, e algumas vezes utilizando exatamente a mesma estrutura de palavras.

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