sexta-feira, 1 de maio de 2020

Na ordem do Velho Testamento, o livro de Jó marca o início dos livros poéticos. Cronologicamente, isso pareceria cair durante a última parte de Gênesis – depois do dilúvio e antes da lei. Jó, uma pessoa real como a escritura testifica (Ez 14:14; Tg 5:11), vivia na terra de Uz, geralmente entendida como na Arábia. Ele era aquele que, pelo próprio testemunho de Deus, era integro e reto, “temente a Deus, e desviando-se do mal” (Jó 1:8). O relato inteiro é sobre a extraordinária prova de Jó.
Este livro foi amplamente mal entendido e muitos caem no mesmo erro que os amigos de Jó – de que Jó trouxe seu sofrimento sobre si mesmo por causa de seus pecados. Deus não estava punindo Jó por sua justiça própria; esse não era o pecado secreto que seus companheiros procuravam veementemente. (Que ele era honesto não tem dúvidas, porém, isso era um sintoma, não a raiz). O homem, por natureza, vê sua prosperidade como a aprovação de Deus e a aflição como sua desaprovação. Essa visão de Deus tem implicações terríveis. Claramente, há casos em que os iníquos prosperam (Jó 21) e, como neste caso, onde os justos sofrem.
Havia uma necessidade na vida de Jó. No entanto, a pergunta não era: “Por que fizeste isto?” (Gn 3:13), mas antes: “Onde estás?” (Gn 3:9). O livro considera o estado do homem na natureza bem distante de qualquer questão de pecados cometidos. O homem procuraria justificar-se diante de Deus – e certamente um homem como Jó tinha muito em que repousar -, mas ele não sabe que está totalmente em inimizade com Deus.
Além dos dois primeiros capítulos em que aprendemos a origem da prova de Jó, os capítulos restantes são um diálogo entre Jó e seus três amigos Elifaz, Bildade e Zofar (Jó 3-31), com Eliú (Jó 32-37), e finalmente com o próprio Senhor (Jó 38-42).
Deus permite que Satanás fira Jó, mas um limite é estabelecido e sua vida é preservada. Satanás argumentou que, sem retribuição, Jó amaldiçoaria a Deus (Jó 1:9-11). Satanás, e o homem natural como ele, não aprecia a fé. Satanás seduziu Eva com a promessa de uma recompensa e assume que Deus trabalha da mesma maneira (Jó 1:10). Tendo fracassado, Satanás sai da cena, e a mais dura prova de Jó começa com seus supostos amigos.
Elifaz fala por experiência própria (Jó 4:8, 15:10). Deus não pode ser encontrado pela experiência, e isso se reflete nos comentários de Elifaz (Jó 22:3). Só conhecemos Deus pela revelação que Ele faz de Si mesmo.
Bildade fala da consciência (Jó 8:6), mas a consciência condena o homem sem remédio. Como seus amigos, Bildade vê o governo de Deus como a medida completa e a demonstração de Sua justiça, uma doutrina que prova nossa total ignorância de Deus.
Zofar é legalista – faça e você viverá (Jó 11:13-15) –, mas o homem não tem poder para agradar a Deus por meio de boas ações.
Não podemos descartar tudo o que os amigos dizem, pois havia verdade ali, embora mal direcionada; tudo apontou Jó para si mesmo e não para Deus.
“Como se justificaria o homem para com Deus?” (Jó 9:2). Jó sabia que se ele se justificasse, sua boca o condenaria (Jó 9:20). Ele desejou um homem por árbitro entre ele e Deus (Jó 9:33), alguém que pudesse pedir a Deus por ele (Jó 16:21). Com seus pensamentos internos, sabendo que seus amigos o acusavam falsamente, Jó se justifica às custas de Deus (Jó 29:14, 40:8).
Em Eliú, temos a figura do mediador, de quem Cristo é o cumprimento. Eliú afasta os pensamentos de Jó de si mesmo e em direção a Deus. Deus fala ao homem em uma visão (Jó 33:15), na doença (Jó 33:19), e às vezes por um mensageiro (Jó 33:23). Em sua prova, Jó não viu que Deus era favorável a ele. O coração de Eliú ansiava por Jó (Jó 32:19). Em nossas provações, justificamos Deus? Reconhecemos Sua mão amorosa nela? Sabemos que temos um advogado que anseia por nós? Ou nossas mãos caem e, em ocupação com o nosso eu, veem apenas Deus como Juiz? “Porque o Senhor corrige o que ama” (Hb 12:6).
O coração de Jó, assim preparado, ouve o Senhor responder-lhe do redemoinho (Jó 38:1). Com seus olhos agora fixos em Deus e no Seu poder glorioso, como revelado na criação, Jó só pode dizer: “Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora Te veem os meus olhos. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:5-6). Aí está a libertação de Jó na medida em que ele poderia conhecê-la – Deus é o justificador, ele encontrou um resgate (Jó 33:24).
Agora podemos dizer o que Jó não poderia saber naquele momento: “Sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, Ao Qual Deus propôs para propiciação pela fé no Seu sangue, para demonstrar a Sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da Sua justiça neste tempo presente, para que Ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3:24-26).

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