Na ordem do Velho
Testamento, o livro de Jó marca o início dos livros poéticos. Cronologicamente,
isso pareceria cair durante a última parte de Gênesis – depois do dilúvio e
antes da lei. Jó, uma pessoa real como a escritura testifica (Ez 14:14; Tg
5:11), vivia na terra de Uz, geralmente entendida como na Arábia. Ele era
aquele que, pelo próprio testemunho de Deus, era integro e reto, “temente a
Deus, e desviando-se do mal” (Jó 1:8). O relato inteiro é sobre a
extraordinária prova de Jó.
Este livro foi
amplamente mal entendido e muitos caem no mesmo erro que os amigos de Jó – de que
Jó trouxe seu sofrimento sobre si mesmo por causa de seus pecados. Deus não
estava punindo Jó por sua justiça própria; esse não era o pecado secreto que
seus companheiros procuravam veementemente. (Que ele era honesto não tem
dúvidas, porém, isso era um sintoma, não a raiz). O homem, por natureza, vê sua
prosperidade como a aprovação de Deus e a aflição como sua desaprovação. Essa
visão de Deus tem implicações terríveis. Claramente, há casos em que os iníquos
prosperam (Jó 21) e, como neste caso, onde os justos sofrem.
Havia uma necessidade
na vida de Jó. No entanto, a pergunta não era: “Por que fizeste isto?” (Gn
3:13), mas antes: “Onde estás?” (Gn 3:9). O livro considera o estado do
homem na natureza bem distante de qualquer questão de pecados cometidos. O homem
procuraria justificar-se diante de Deus – e certamente um homem como Jó tinha
muito em que repousar -, mas ele não sabe que está totalmente em inimizade com
Deus.
Além dos dois primeiros
capítulos em que aprendemos a origem da prova de Jó, os capítulos restantes são
um diálogo entre Jó e seus três amigos Elifaz, Bildade e Zofar (Jó 3-31), com Eliú
(Jó 32-37), e finalmente com o próprio Senhor (Jó 38-42).
Deus permite que
Satanás fira Jó, mas um limite é estabelecido e sua vida é preservada. Satanás
argumentou que, sem
retribuição,
Jó amaldiçoaria a Deus (Jó 1:9-11). Satanás, e o homem natural como ele, não
aprecia a fé. Satanás seduziu Eva com a promessa de uma recompensa e assume que
Deus trabalha da mesma maneira (Jó 1:10). Tendo fracassado, Satanás sai da
cena, e a mais dura prova de Jó começa com seus supostos amigos.
Elifaz fala por
experiência própria (Jó 4:8, 15:10). Deus não pode ser encontrado pela
experiência, e isso se reflete nos comentários de Elifaz (Jó 22:3). Só
conhecemos Deus pela revelação que Ele faz de Si mesmo.
Bildade fala da
consciência (Jó 8:6), mas a consciência condena o homem sem remédio. Como seus
amigos, Bildade vê o governo de Deus como a medida completa e a demonstração de
Sua justiça, uma doutrina que prova nossa total ignorância de Deus.
Zofar é legalista – faça
e você viverá (Jó 11:13-15) –, mas o homem não tem poder para agradar a Deus por
meio de boas ações.
Não podemos descartar
tudo o que os amigos dizem, pois havia verdade ali, embora mal direcionada;
tudo apontou Jó para si mesmo e não para Deus.
“Como se justificaria o
homem para com Deus?” (Jó 9:2). Jó sabia que se ele se
justificasse, sua boca o condenaria (Jó 9:20). Ele desejou um homem por árbitro
entre ele e Deus (Jó 9:33), alguém que pudesse pedir a Deus por ele (Jó 16:21).
Com seus pensamentos internos, sabendo que seus amigos o acusavam falsamente,
Jó se justifica às custas de Deus (Jó 29:14, 40:8).
Em Eliú, temos a figura
do mediador, de quem Cristo é o cumprimento. Eliú afasta os pensamentos de Jó
de si mesmo e em direção a Deus. Deus fala ao homem em uma visão (Jó 33:15), na
doença (Jó 33:19), e às vezes por um mensageiro (Jó 33:23). Em sua prova, Jó
não viu que Deus era favorável a ele. O coração de Eliú ansiava por Jó (Jó
32:19). Em nossas provações, justificamos Deus? Reconhecemos Sua mão amorosa
nela? Sabemos que temos um advogado que anseia por nós? Ou nossas mãos caem e,
em ocupação com o nosso eu, veem apenas Deus como Juiz? “Porque o Senhor
corrige o que ama” (Hb 12:6).
O coração de Jó, assim
preparado, ouve o Senhor responder-lhe do redemoinho (Jó 38:1). Com seus olhos
agora fixos em Deus e no Seu poder glorioso, como revelado na criação, Jó só
pode dizer: “Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora Te veem os meus olhos.
Por isso me abomino e me
arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:5-6). Aí está a libertação de Jó na
medida em que ele poderia conhecê-la – Deus é o justificador, ele encontrou um
resgate (Jó 33:24).
Agora podemos dizer o
que Jó não poderia saber naquele momento: “Sendo justificados gratuitamente
pela Sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, Ao Qual Deus propôs para
propiciação pela fé no Seu sangue, para demonstrar a Sua justiça pela remissão
dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da Sua
justiça neste tempo presente, para que Ele seja justo e justificador daquele
que tem fé em Jesus” (Rm 3:24-26).
Muito precioso!
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