Atos, segundo livro de
Lucas, começa no ponto em que seu primeiro livro parou – a ascensão de nosso
Senhor (Lc 24:51; At 1:9) – “Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de
tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar, até ao dia em que foi
recebido em cima, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos
apóstolos que escolhera” (At 1:1-2).
Um título melhor para o
livro seria “Os Atos do Espírito Santo”, pois nele vemos a orientação
prática do Espírito Santo na vida dos apóstolos e da Igreja primitiva. Uma
orientação que não é menos real ou aplicável neste dia atual.
Com a ressurreição e
ascensão do Senhor Jesus Cristo, e o Espírito Santo descendo de acordo com Sua
promessa (Jo 16:7), a Igreja – a Assembleia de Deus – é formada. Antes do dia
de Pentecostes, a Igreja não existia, e depois do Arrebatamento a Igreja não
será mais encontrada na Terra. Estas são as circunstâncias que dão à Igreja o
seu verdadeiro caráter.
Apesar de Atos cobrir
pouco mais de 30 anos, traz diante de nós um esboço completo da história da Igreja.
Esboço
O livro tem 5 divisões.
O capítulo 1 é introdutório ao livro inteiro. Enquanto esperam pelo Espírito
Santo, os discípulos são guiados pela Palavra de Deus.
Nos capítulos 2-7,
Jerusalém é o centro, na medida em que Deus permanece em graça em relação à nação
de Israel (compare Lucas 13:6-9).
Após o apedrejamento de
Estêvão – capítulos 8-12 – o evangelho é levado primeiro em Samaria e depois
aos gentios de um modo mais genérico. Cornélio é trazido para dentro, e uma assembleia
é estabelecida entre os gregos em Antioquia. É lá que os discípulos são, pela
primeira vez, chamados Cristãos. Pedro é proeminente.
Nos capítulos 13-20
temos as viagens e labores do apóstolo Paulo. Três viagens são registradas,
cada uma começando em Antioquia e todas, com exceção da última, terminando lá.
A primeira viagem levou Paulo a Chipre e de lá para a Ásia Menor (Turquia
moderna) e, finalmente, de volta a Antioquia (13-14:26). Na segunda viagem, o apóstolo
passou pela Ásia Menor para a Europa (At 16) com visitas na Macedônia e Acaia
(15:36-18:22). A viagem final começa em Antioquia com o apóstolo viajando
através de várias cidades de suas visitas anteriores e termina em Jerusalém
(18:23-21).
Do capítulo 21 ao final
do livro, temos o relato de Paulo, o prisioneiro, levado de Jerusalém para
Roma.
A Igreja Primitiva
Atos dá o único relato
escritural da Igreja primitiva. Do início ao fim, a atividade do Espírito Santo
é proeminente. As assembleias são vistas como um só corpo e atuam nesse caráter
– “Há um só corpo e um só
Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação”
(Ef 4:4).
Pedro e João saem de
Jerusalém para ir impor as mãos sobre os samaritanos e estes recebem o Espírito
Santo (At 8:14-17). Não encontramos igrejas judaicas e samaritanas separadas em
termos nacionais – “pois todos nós fomos batizados em um Espírito formando
um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos
bebido de um Espírito” (1 Co 12:13).
Não há igrejas
independentes no livro de Atos. O que parecia bom para o Espírito Santo em
Jerusalém era também reconhecido em Antioquia (At 15:28, 31). “Procurando
guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4:3).
Por outro lado, a
separação da Igreja primitiva do que é judaico é claramente revelada.
Individualmente o crente é encontrado em uma posição inteiramente nova, “nova
criatura [criação – TB] é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo
(2 Co 5:17). Corporativamente, a Igreja é bastante distinta de Israel, “temos
um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo... saiamos pois a Ele fora do arraial,
levando o Seu vitupério”
(Hb 13:10, 13). Longe de ser declarações místicas, a aplicação dessas coisas é
prática. Em Éfeso vemos Paulo separando os discípulos e se reunindo com eles em
um local distinto da sinagoga (At 19:9).
Paulo, por ocasião da
sua partida final de Éfeso, adverte os anciãos efésios de que viriam ataques de
fora e divisões de dentro (At 20:29-30).
O retorno e a prisão de
Paulo em Jerusalém prefiguram o que aconteceu com a doutrina de Paulo na Cristandade.
Finalmente, a viagem de Paulo de Bons Portos a Melita nos dá um resumo marcante
da história da Cristandade (At 27). Embora o barco seja quebrado em inúmeras partes,
Paulo é preservado, e alguns (talvez apenas Lucas e Aristarco) são encontrados
com ele (At 27:2). Nem um princípio estabelecido neste livro é tornado obsoleto
por circunstâncias presentes.
Infelizmente, há muitos
hoje que não sabem a terra que estão prestes a entrar (At 27:39). A Igreja
esqueceu completamente seu chamado celestial – que sua Cabeça é Cristo em
glória – e se estabeleceu neste mundo.
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