O caráter das epístolas
de Pedro está de acordo com a pessoa de Pedro. Certamente é o Pedro restaurado,
o apóstolo, pastoreando o rebanho de Deus; no entanto, vemos nelas as
experiências dos evangelhos (Jo 21:15-19). A primeira epístola foi
provavelmente escrita da Babilônia (1 Pe 5:13), enquanto a proximidade do seu
martírio sugere que a segunda poderia ser de Roma[1] (2
Pe 1:14). A referência à Babilônia não é simbólica; o versículo deve lido, “A
vossa co-eleita em Babilônia vos saúda, e meu filho Marcos” (1 Pe 5:13) – refere-se
a um indivíduo, não a Igreja (eleição é individual).
Ambas as epístolas são
dirigidas aos crentes judeus espalhados por toda a Ásia Menor (1 Pe 1:1; 2 Pe
3:1). Eles haviam abandonado o judaísmo para o Cristianismo, sua herança era
celestial, e seu Messias glorificado. Física e espiritualmente eram peregrinos e
forasteiros (1 Pe 2:11). O apóstolo os encoraja em seu caminho terrestre, uma
maneira repleta de provações e perseguições. A salvação em sua plenitude é uma
coisa futura (1 Pe 1:4-5). O governo de Deus é especialmente trazido diante de
nós – na primeira epístola, em relação aos justos, enquanto na segunda, no
julgamento dos ímpios.
Primeira Epístola de Pedro
No capítulo 1 temos a
esperança do Cristão – uma viva esperança. Embora existam provações, os
resultados terão um peso eterno (1 Pe 1:7). O governo diário de Deus deve ser
reconhecido, e passamos este tempo de peregrinação em temor, não porque somos incertos quanto à
salvação, mas porque fomos redimidos “com o precioso sangue de Cristo, como
de um cordeiro imaculado e incontaminado” (1 Pe 1:16-19).
No capítulo 2, versículos
de 1 a 10, temos privilégios Cristãos. Em contraste com o templo judeu, somos,
como pedras vivas, “edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para
oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1 Pe
2:5). Cristo é a pedra de esquina. Com nosso serviço para com Deus assim
estabelecido, encontramos que há também um testemunho ao homem: “Mas vós
sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para
que anuncieis as virtudes daqu’Ele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa
luz” (1 Pe 2:9).
Em conexão com essas
duas coisas – nosso serviço diante de Deus e nosso testemunho diante deste mundo – experimentamos
o governo moral de Deus em nossa vida. A arca e Dagom não podiam habitar juntos
(1 Sm 5:3). “Sede santos, porque Eu Sou santo” (1 Pe 1:16).
Pedro começa a sua
exortação com: “Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos
abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma” (1 Pe
2:11). Ele vê a peregrinação do Cristão como um caminho de sofrimento, no meio
do qual devemos nos comportar de tal maneira a trazer glória a Deus. Isso se
aplica tanto em relação aos governos e patrões, bem como nas relações
domésticas. “Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados.
E não temais com medo deles, nem vos turbeis” (1 Pe 3:14).
Quando nossa vida é
governada pela vontade de Deus, sofremos; tal caminhada deve ser à custa da
nossa própria vontade (1 Pe 4:1-2). Um caminho de excesso mundano pode ter seus
prazeres, mas aqueles que caminham assim terão que prestar contas a Ele que
está pronto para julgar os vivos e os mortos (1 Pe 4:4-5).
Temos um dom; devemos
usá-lo para a glória de Deus como fiéis despenseiros (1 Pe 4:10). Se sofremos
pelo nome de Cristo, então somos felizes (1 Pe 4:14). Ninguém deve sofrer como
um malfeitor (1 Pe 4:15). Deus trabalha Seus caminhos de governo primeiro com
aqueles mais próximos d’Ele, e assim o julgamento deve começar pela casa de
Deus (1 Pe 4:17).
O livro termina com o
velho Pedro exortando os anciãos, “Apascentai o rebanho de Deus” (1 Pe
5:2). E aos mais jovens, “sede sujeitos aos anciãos” (1 Pe 5:5). “E o
Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à Sua eterna glória,
depois de haverdes padecido um pouco, Ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará,
fortificará e fortalecerá” (1 Pe 5:10).
Segunda Epístola de Pedro
A segunda epístola de
Pedro aborda a terrível impiedade dos últimos dias da Cristandade. Mestres não
regenerados, negando o Senhor que os comprou, seduziriam com palavras vãs,
prometendo liberdade, mas levando almas à escravidão do pecado (cap. 2:1 – TB).
Os escarnecedores zombariam do Cristianismo e da esperança do crente (cap. 3).
Enquanto os capítulos 2
e 3 são sombrios, o primeiro é brilhante com encorajamento. Pedro os exorta a procurarem
fazer cada vez mais firme a vocação e eleição, não aos olhos de Deus,
pois isso tornaria as palavras sem sentido, mas no andar deles. Ele deseja
que a nossa entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo seja
abundante, ricamente suprida (2 Pe 1:11). Pedro recorda o monte da transfiguração;
como ele poderia esquecer essa cena? (2 Pe 1:17-18). Realmente temos uma
palavra de certeza, pois aguardamos, não o nascer do Sol, mas a estrela da
manhã (2 Pe 1:19).
Enquanto a linguagem
desta epístola, e especialmente o segundo capítulo, assemelha-se a Judas, lá
está a apostasia mencionada, e aqui está o pecado. Pedro ao usar os anjos como
um exemplo diz: “Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram” (2 Pe
2:4), enquanto Judas, usando um exemplo semelhante, relata: “E aos anjos que
não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação” (Jd
6).
Era o desejo de Pedro
que eles pudessem estar atentos às palavras ditas pelos apóstolos (2 Pe 3:1-2).
A sua maneira de falar não oferece qualquer sugestão de sucessão apostólica.
Assim como havia zombadores no dia de Noé, suas vozes são hoje em alto e claro
tom. O mundo, no entanto, não está agora sendo reservado para uma inundação, mas para o fogo, e
a dissolução total do céu e da Terra. Sabendo disso, devemos ser diligentes em procurar
“que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz” (2 Pe
3:14).
[1] N. do A.: A história secular registra que Pedro
morreu em Roma, uma visão amplamente aceita.
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