Embora endereçada à “Igreja
de Deus que está em Corinto” (1 Co 1:2), o conteúdo desta epístola não é
específico dos santos daquela cidade, pois descobrimos que ela também é
dirigida a “todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor
Jesus Cristo” (1 Co 1:2).
Surgiram divisões entre
os crentes em Corinto. O mal foi tolerado no meio deles, e alguns até negaram a
ressurreição dos mortos (1 Co 15:12). O apóstolo, tendo recebido uma
notificação na casa de Cloe e uma carta deles mesmos (1 Co 1:11, 7:1),
considera necessário adiar uma visita – para que ele não viesse com uma vara (1
Co 4:21; 2 Co 1:23) – e dirige a eles essa comunicação divinamente inspirada.
Uma chave para o livro
pode ser encontrada no versículo 9 do primeiro capítulo: “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados
para a comunhão de Seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor”. O senhorio de
Cristo está impresso neles – a mesa do Senhor, a ceia do Senhor (1 Co 10:21,
11:20) – e é à Sua comunhão que somos chamados. Ela não é nossa. Da mesma
forma, o poder do Espírito está presente em todos os lugares em contraste com a
sabedoria do homem: “falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria
humana, mas naquelas ensinadas pelo Espírito, comunicando coisas espirituais
por meios espirituais” (1 Co 2:13 – JND).
Esboço
Após uma breve
introdução de nove versículos, o apóstolo aborda imediatamente o assunto das
divisões (capítulos 1-4). Escolas de pensamento eram comuns entre os filósofos
gregos; com o evangelho não havia lugar para isso. O que Paulo ou Apolo
ensinaram não poderia ser separado de Cristo ou um do outro. Paulo decidiu não
saber nada entre eles, exceto Jesus Cristo e Ele crucificado (1 Co 2:2) – ele refuta
e silencia todo pensamento de divisão, com a cruz de Cristo. O único fundamento
havia sido lançado; o homem era responsável por como edificava sobre ele (1 Co
3:10-15).
Do capítulo 5 até o
final do capítulo 11, Paulo aborda várias questões morais. Antes de considerar
as coisas que eles escreveram para ele (cap. 7), o apóstolo é obrigado a lidar
com um exemplo específico de imoralidade entre eles (1 Co 5:1). “Não sabeis
que um pouco de fermento faz levedar toda a massa?” (1 Co 5:6). Eles
deveriam julgar os que estavam dentro, e a pessoa iníqua deveria ser tirada do
meio deles (1 Cor 5:13). Paulo então fala da lei, do casamento e comer coisas
oferecidas a ídolos. Alguns o acusaram de ministrar para obter lucro,
questionando seu apostolado e minando o que ele ensinava.
No capítulo 10, Paulo
adverte a igreja professa com exemplos da história de Israel. O abandono de
Cristo acabará por levar à apostasia. É neste momento que o assunto da mesa do
Senhor é apresentado: “porventura pode Deus preparar uma mesa no deserto?”
(Sl 78:19 – TB). A natureza coletiva da festa do memorial, particularmente a
unidade do corpo, expressa no pão, é enfatizada aqui. “Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo: porque todos
participamos do mesmo pão” (1 Co 10:17). Seja o memorial do Senhor, o
sacrifício judaico ou a festa pagã, os que comem são identificados
coletivamente com a mesa ou o altar, conforme o caso (1 Co 10:18-21).
O capítulo 11 começa
com algo que hoje se percebe pouco relevante, mas que, no entanto, nunca perdeu
seu significado. A cobertura da cabeça da mulher (e a não cobertura do homem) é
uma demonstração externa da ordem de Deus na criação (1 Co 11:1-16). A última
parte do capítulo traz diante de nós a ceia do Senhor, um assunto de revelação
especial recebida por Paulo (1 Co 11:23). Na ceia do Senhor, recordamos do
Senhor e mostramos – ou anunciamos – “a morte do Senhor até que Ele venha”
(1 Co 11:26). O pão e o cálice não devem ser tomados de maneira indigna – o
julgamento próprio individual é essencial (1 Co 11:27-29). No capítulo 11, é a
responsabilidade individual que nos é apresentada.
Nos capítulos 12-14,
Paulo aborda o assunto de dons espirituais (1 Co 12: 1). Por um Espírito os
dons são distribuídos a cada um conforme Lhe apraz, e, por um Espírito, os dons
são exercidos (1 Co 12:11). Embora haja vários dons, há um só Espírito – “em um só Espírito fomos todos nós
batizados em um corpo” (1 Co 12:13 – AIBB). Dom não pode ser exercitados
sem amor (cap. 13), e quando o dom é apropriadamente exercitado, há ordem e a
Igreja é edificada (cap. 14).
No capítulo 15, vemos
que alguns estavam questionando a ressurreição dos mortos – “Ora, se se
prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns dentre vós que não
há ressurreição de mortos?” (1 Co 15:12). Sem a ressurreição, não há
evangelho – “somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Co 15:19).
A ressurreição dos santos dentre os mortos, dos quais Cristo foi as primícias,
é outro daqueles mistérios revelados ao apóstolo (1 Co 15:51). Tudo o que nos
separava de Deus é inteiramente tirado – a morte, a ira de Deus, o poder de
Satanás e o pecado desaparecem para nós, em virtude da obra de Cristo; e Ele é
feito para nós a justiça que é o nosso título para a glória celestial[1]. “Mas
graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co
15:57).
Paulo conclui a epístola
no capítulo 16 com uma palavra final sobre coletas, seus planos de viagem e uma
saudação de encerramento.
[1] N. do
A.: J. N. Darby – Synopsis, 1 Coríntios.
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